Fonte – O antagonista / UOL

Desde o sábado último, o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), é alvo de críticas após ter defendido uma frente de estados do Sul e Sudeste como forma de se contrapor ao protagonismo dos estados nordestinos na política nacional.

Zema foi chamado de xenofóbico, fascista, traidor da Pátria, entre outros tipos de impropérios coletivos. Ao ler a declarações do governador mineiro com alguma sobriedade, porém, é possível perceber que há muita histeria coletiva em uma discussão – sadia diga-se – sobre necessidades de mudanças no atual pacto federativo.

Para quem não acompanhou a discussão, eis uma das aspas que causou a tal polêmica.

“Outras regiões do Brasil, com Estados muito menores em termos de economia e população se unem e conseguem votar e aprovar uma série de projetos em Brasília. E nós, que representamos 56% dos brasileiros, mas que sempre ficamos cada um por si, olhando só o seu quintal, perdemos.”

Não é mentira. Assim como não é mentira que o Nordeste viveu à margem das políticas públicas do governo central ao longo do século XX e hoje sofre as consequências de um elitismo político inaugurado à época da República do Café com Leite.

Mas voltemos às tais declarações xenofóbicas de Zema. O que ele defendeu, na realidade, não foi nada além do que um mecanismo político para se contrapor ao Consórcio Nordeste – fórum dos nove governadores da região. A entidade foi criada em março de 2019 (foto), no início do governo Jair Bolsonaro, sob a seguinte lógica: preservar a região de eventuais boicotes do governo federal.

Na época, ninguém chamou Dino (então governador do Maranhão), Camilo Santana (então governador do Ceará), Rui Costa (então governador da Bahia), de xenofóbicos ou ‘traidores da Pátria’. Muito pelo contrário. A classe política – e a nossa esquerda pensante – viu no tal Consórcio Nordeste uma reação republicana – e lícita – ao peso político dos estados do Sul e Sudeste, ainda mais sob uma gestão que nunca foi apaixonada por Dino, Santana, Costa e companhia.

Voltemos a 2023. Hoje o presidente da República é nordestino; o presidente da Câmara é nordestino; o ministro-chefe da Casa Civil é nordestino; o ministro da Justiça e da Educação, idem. Na reforma ministerial, dois outros nordestinos vão fazer parte da Esplanada. Após a reforma, o Nordeste será maioria no governo federal.

Do outro lado, dos sete estados das regiões Sul e Sudeste, seis têm governadores tidos como oposição ao governo federal: Eduardo Leite (RS), Jorginho Mello (SC), Romeu Zema (MG), Tarcísio de Freitas (SP), Cláudio Castro (RJ) e Ratinho Júnior (PR). Nada mais lícito para tentar se contrapor ao tal Consórcio Nordeste do que se instituir um bendito Consórcio do Sul e Sudeste.

É inegável que o Nordeste precisa – urgentemente – de um salto de desenvolvimento e isso parte, indubitavelmente, de uma discussão séria sobre o pacto federativo. Agora, também é inegável que parte do atraso da região é fruto da opressão de oligarquias locais tais como Sarneys, Calheiros, Magalhães, Campos e Liras…  Oligarquias essas que enriqueceram a partir da exploração da pobreza de milhões de pessoas. Algumas dessas oligarquias, inclusive, apoiadas por Lula e seus companheiros. Mas essa é uma discussão densa e complexa. Por isso, é mais fácil chamar o Zema de xenofóbico do que se levar a cabo um debate substancial sobre o peso e a importância de cada estado no desenvolvimento do país.

E há outro detalhe: Zema é candidatíssimo ao Palácio do Planalto em 2026. Lula e sua turma sabem disso. Por isso, é mais fácil ligar as turbinas da máquina de assassinar reputações do que, de fato, se criar mecanismos de desenvolvimento do Nordeste e tirar milhões e milhões de pessoas da extrema pobreza.

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Felipe Pimentel, jornalista alagoano formado pela Universidade Federal de Alagoas (UFAL), se destaca por sua dedicação à comunicação e sua versatilidade no campo jornalístico. Com uma paixão inabalável pelo mundo das notícias e uma busca constante pela verdade em todos os campos da sociedade.

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